Recentemente surgiu a oportunidade de colaborar na programação de uma pequena excursão sobre a arquitectura portuguesa, direccionada a estrangeiros. Pois bem, o entusiasmo foi imediato inicialmente, mas porém quando parei para reflectir sobre quais as obras a referenciar, deparei-me com um certo anonimato geral da arquitectura contemporânea portuguesa. Vejamos, países como a Holanda, ou a Inglaterra ou mesmo a nossa vizinha Espanha, facilmente conseguimos mencionar uma mão cheia de projectos que se destacam dos demais e que são sem dúvida pontos de atracção, não só para arquitectos de todo o mundo, mas como também para os próprios turistas sem formação especifica na área. E isto porquê? Porque esse tipo de Arquitectura que se destaca nos países que falei é concebida para realmente ser um ícone mediático da sociedade, objectos de consumo visual! Pois bem, essas intenções por detrás dos projectos são válidas, quando assumidas claramente como tal, aliás na cidade do Porto podemos encontrar um desses marcos, a Casa da Música, curiosamente de pedigree Holandês, no entanto essa situação fez-me pensar momentaneamente que a nossa arquitectura para um cidadão europeu cosmopolita seria um pouco, como direi, enfadonha, á primeira vista não arrebata o olhar, nem nos deixa em êxtase pelas corres berrantes ou pelas formas arrojadas. Mas é exactamente a ausência de todas essas características que a tornam Portuguesa. Não se repete, tem traços marcadamente regionalistas e tradicionalistas, é verdadeira e não procura subterfúgios, sem dúvida é anónima mas ANÒNIMA com maiúsculas porque vai buscar todas as qualidades dessa palavra, insere-se com a paisagem, respeita o meio urbano e procura fazer-se notar através do diálogo, não grita pelo seu espaço, mas no silêncio da manhã, recebe a Luz do Sol em busca da ribalta. Pelo menos, a maioria da prática arquitectónica, pois começam a surgir correntes já enfluenciadas pelas incursões durante a formação em paises da europa central e que começam agora a trilhar um caminho diverso.
É com certeza que os valores apontados que caracterizam grandemente a nossa escola de fazer Arquitectura, encontram o seu espaço no panorama europeu, pois, quem nos procura, procura a nossa especificidade e as qualidades, tais como os defeitos, inerentes, assim, o que para nós parece banal ao olhar menos atento, poderá ser aos olhos de outrem uma obra resultante da mestria do uso dos Materiais, do Espaço e da Luz. Cada vez mais a arquitectura internacional, esquece os valores primários que Vitrúvio definiu, e por cá, eventualmente devido à escassez dos recursos procuramos ser mais pragmáticos e realistas nas abordagens.
Isto tudo para vos introduzir este projecto, que simboliza um pouco da génese da nossa arquitectura.
“No interior Norte de Portugal, bem no cimo do Parque Natural da Peneda Gerês e a cerca de mil metros de altitude existe um restaurante “abocanhado” na paisagem. No meio de uma envolvente montanhosa sobre o Rio Homem, entre pendentes que se desenvolvem em socalcos, lá está ele, como parte da geometria que permite a manutenção das pastagens ao longo do ano. Terreno e objecto “constroem uma paisagem em que o natural e o artificial se cruzam de forma exemplar”, sublinham António Portugal e Manuel Reis, autores do Projecto do restaurante “O Abocanhado”. Como que mergulhado na paisagem da aldeia de Brufe, a sua inserção na envolvente foi meticulosa, ao ponto de a sua cobertura ser a continuidade da plataforma natural á cota da estrada. O edifício torna-se assim mais um socalco na paisagem.
A fachada é revestida com a antiga madeira dos caminhos-de-ferro, onde uma ampla janela rasga o alçado principal e se assume como um miradouro, enquanto as restantes paredes são de pedra natural da região.”
A prova de que este anonimato aparente, não passa despercebido, é que este projecto, que calculo a maioria de vós não fazia ideia da sua existência é um dos sete projectos de arquitectura que recebeu a alta recomendação da publicação Architectural Review, e ainda a medalha de prata na terceira edição da Bienal Miami Beach 2005 – Architecture, Landscape Architecture and Interior Design.
È com agrado que afirmo que o nosso pais, e quando o afirmo coloco ênfase em todas as áreas geográficas de Portugal – Norte, Sul, Litoral, Interior, Ilhas – possui pequenas obras de arquitectura de grande qualidade e que por vezes não têm o reconhecimento nacional devido.
Isto tudo para vos introduzir este projecto, que simboliza um pouco da génese da nossa arquitectura.
“No interior Norte de Portugal, bem no cimo do Parque Natural da Peneda Gerês e a cerca de mil metros de altitude existe um restaurante “abocanhado” na paisagem. No meio de uma envolvente montanhosa sobre o Rio Homem, entre pendentes que se desenvolvem em socalcos, lá está ele, como parte da geometria que permite a manutenção das pastagens ao longo do ano. Terreno e objecto “constroem uma paisagem em que o natural e o artificial se cruzam de forma exemplar”, sublinham António Portugal e Manuel Reis, autores do Projecto do restaurante “O Abocanhado”. Como que mergulhado na paisagem da aldeia de Brufe, a sua inserção na envolvente foi meticulosa, ao ponto de a sua cobertura ser a continuidade da plataforma natural á cota da estrada. O edifício torna-se assim mais um socalco na paisagem.
A fachada é revestida com a antiga madeira dos caminhos-de-ferro, onde uma ampla janela rasga o alçado principal e se assume como um miradouro, enquanto as restantes paredes são de pedra natural da região.”
A prova de que este anonimato aparente, não passa despercebido, é que este projecto, que calculo a maioria de vós não fazia ideia da sua existência é um dos sete projectos de arquitectura que recebeu a alta recomendação da publicação Architectural Review, e ainda a medalha de prata na terceira edição da Bienal Miami Beach 2005 – Architecture, Landscape Architecture and Interior Design.
È com agrado que afirmo que o nosso pais, e quando o afirmo coloco ênfase em todas as áreas geográficas de Portugal – Norte, Sul, Litoral, Interior, Ilhas – possui pequenas obras de arquitectura de grande qualidade e que por vezes não têm o reconhecimento nacional devido.
É altura de sairmos das zonas metropolitanas e pormo-nos à estrada e conhecer o nosso País real!! Há tanto para descobir.
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