29 setembro, 2008

Ruinas Romanas na Baixa Pombalina


Este último domingo resolvi combater a "preguicíte aguda dominical" e convenci-me que seria interessante ir visitar as ruínas das galerias romanas que se situam por baixo da Rua da Prata, as quais eu desconhecia por completo da sua existência, mas que ao ouvir na rádio a divulgação da abertura destas ao público, a única vez este ano, deixou-me entusiasmado. Primeiro, porque sinto cada vez mais a necessidade de conhecer a cidade que me recebe todos dias, e que aos poucos me vai enamorando com a promessa de uma vida melhor numa qualquer janela com uma vista soalheira sobre o rio e as pedras da calçada; além de que constato que conheço melhor algumas cidades estrangeiras do que propriamente a capital da minha pátria. Pois bem foi imbuído neste espírito que acordei às 8h da manha....para estar em Lisboa às 9h para depois estar na Baixa às 10h. E assim foi, pelas 10h da manha abriram as portas das galerias, e às 10h já eu estava numa fila que ja tinha o tamanho de 3 quarteirões pombalinos! Depois de um calculo rápido, a modos de contas de mercearia, contaram-se os vãos das fachadas, multiplicou-se pela medida óbvia do mesmo...somaram-se os quarteirões, e estipulou-se o tempo/metros k a fila se movia...e bem...noves fora nada, lá para as 13h30 no máximo deveria estar a molhar os meus pés dentro das galerias. Pois bem....eram 16h30 (já depois de muita conversa com uma idosa da Lapa que por engano despendeu um domingo inteiro para ir visitar umas ruínas, quando constatou k no ano passado já as tinha visto, e com uma "típica" família onde ainda os filhos brincam com os pais e aceitam passar um domingo a ver cenas buéda caretas sem fazer chantagem psicológia), pude descer ao passado, aos vestígios da cidade Olissipo que na actualidade dá pelo nome de Lisboa.
A visita foi curta, mas rica...além de ser sempre impressionante estarmos num local com 2000 anos de história.
Deixo-vos com algumas informações retiradas da agência Lusa sobre este espaço que se encontra escondido num dos locais com que mais nos identificamos na cidade de Lisboa, a Baixa-Pombalina.


Na foto podemos ver a abertura no pavimento que permite o acesso às galerias.
Apesar do trânsito estar condicionado os eléctricos continuavam a passar, criando sempre algum entusiamo pois ao passar cobriam a entrada.

A fila estendia-se ao longo de toda a Rua dos Correeios, chegando quase à Praça da Figueira.
A espera prolongava-se por horas a fios....


"Durante uma visita, (...) o arqueólogo do Museu da Cidade, António Marques, disse (...) que o local «mais emblemático é a Galeria das Nascentes», onde brota do chão água proveniente das correntes freáticas que atravessam os subsolos da Baixa Pombalina.
A Galeria das Nascentes é uma estrutura, a cerca de cinco metros abaixo do solo, com aproximadamente doze metros de abobada em pedra e tijoleira.
As galerias estão fechadas ao público, por estarem sempre submersas com cerca de um metro e meio de água, sendo visível nas paredes as marcas de nível ao longo das ruínas, mostrou o arqueólogo do Museu da Cidade.
Mas, a partir de sexta-feira e até domingo, as pessoas podem visitar gratuitamente o local «entre as 10h00 e as 18h00», disse António Marques, adiantando que, em 2006, as galerias receberam cerca de 5 mil visitantes.
Descoberta durante a reconstrução da cidade após o grande terramoto de 1755, a estrutura foi alvo de várias teses sobre a sua função original sendo hoje quase unânime que seria um criptopórtico.
Os criptopórticos eram construções abobadadas, adoptadas pelos romanos em terrenos instáveis ou irregulares para criar uma plataforma de suporte a outras edificações, normalmente públicas.
As características construtivas, o tipo e os materiais utilizados sugerem uma construção da época de Augusto, entre os séculos I antes de Cristo e I depois de Cristo, contemporânea de outros grandes edifícios públicos da então cidade de Olisipo.
As primeiras notícias sobre um vasto conjunto de galerias no subsolo de Lisboa surgiram em 1771, mas «a incipiente noção de património na altura levaria a que apenas uma inscrição romana dedicada a Esculápio (Deus da Medicina) fosse salvaguardada», segundo informação divulgada pelo museu da cidade.
Em 1859, obras de saneamento permitiram, «pela única vez», observar restos das construções romanas que se erguiam sobre as galerias. Foi feito «um levantamento exaustivo» das ruínas, num dos trabalhos arqueológicos pioneiros na cidade, pela mão de José Valentim de Freitas.
Em declarações hoje à Lusa, Gomes Mota, engenheiro responsável pelo levantamento tridimensional das galerias, adiantou que uma equipa de engenharia de uma empresa está a fazer gratuitamente o levantamento da estrutura com recurso a tecnologia lazer, para recolher em três dimensões e em suporte electrónico o espólio.
Os engenheiros esperam concluir a recolha de dados ainda hoje e proporcionar uma visita virtual às Galerias e corredores via Internet, acrescentou.
As galerias foram apenas abertas para visitas esporádicas de jornalistas e investigadores, iniciadas em 1909, sendo à data conhecidas como "Conservas de Água da Rua da Prata" por serem usadas pela população como cisterna.
Apenas uma vez por ano é possível descer às galerias, pois «encontram-se com um nível de água elevado cuja bombagem é um processo moroso e que levantaria problemas de conservação do próprio edifício e dos edifícios pombalinos anexos se retirada mais amiúde»."







21 setembro, 2008

Ctrl+C Ctrl+V à Portuguesa

A ilusão que me toldava o espírito nos tempos de universidade, de que seria capaz de criar, que com criatividade, afinco, destreza e arrojo seria capaz de deixar uma marca no panorama da arquitectura, cedo se desfez. Certo que seria mais um sentimento fruto da ingenuidade e de uma arrogância infantil, mas ainda bem que comecei a compreender que o verdadeiro desafio que nos é colocado é a reinvenção de linguagens, métodos e metodologias de fazer arquitectura e não a sua invenção. Os princípios da arquitectura foram, são e serão sempre os mesmos, por isso é uma arte intemporal e universal, no entanto a contemporaneidade dos projectos está muito mais relacionada com os avanços tecnológicos que permitem o uso de técnicas e materiais de construção que possibilitam diferentes resultados, do que propriamente com a originalidade das formas saídas do traço do arquitecto.
Por isso, é com algum divertimento que constato que alguns projectos são tão valorizados e premiados, quando no fundo não passam de um casaco com um padrão da moda com um corte de alfaiate demodé. A lógica do copy paste é perigosa e no mundo das artes, antiética. O esforço deve residir em pegar em referências fortes como ponto de partida e então entregarmo-nos à descoberta de algo distinto e adequado à especificidade do projecto.
As imagens que se seguem são pequenas "coincidências imagéticas" que encontrei no registo da arquitectura nacional. De certo vocês devem conhecer outros exemplares...e não se acanhem em partilhá-los!
.

Unidade de Habitação em Marselha, Le Corbusier

Aldeia da luz, arquitectos Pedro Pacheco e Marie Clément

La Ronchamp, Le Corbusier

Auditório do Cartaxo, arquitectos Cristina Verissímo e Diogo Burnay.

Caixa Forum Madrid, Herzog & Meuron


Largo do Rato, arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Mateus

15 setembro, 2008

Varandas para o rio Reno

A cidade de Colónia tem se vindo a afirmar no panorâma da arquitectura graças a uma série de projectos que visam requalificar algumas zonas da cidade, ao qual se junta a uma forte dinâmica cultural de uma cidade jovem e de espiríto inovador. Projectos como o novo museu de arte sacra, Kolumba, da autoria de Peter Zumthor, ou o concurso para a renovação e expansão da Ópera de Colónia, ou mesmo, a expansão habitacional que veio revitalizar uma antiga zona industrial junto ao rio Reno, touxeram uma forte dose de contemporaneidade a esta cidade.


O projecto que destaco, é um conjunto habitacional situado nesta nova zona residencial, da autoria do atelier Romer Partner Architektur, que sobressai pela unidade na diversidade que o conjunto apresenta. A simplicidade dos gestos, a composição dos alçados - destinta, revelando dois momentos, um que confronta o rio, e outro que confronta uma zona interior de circulação pedonal - o modo como revitalizam o conceito das varandas, fazem como que dediquemos um olhar mais atento a este projecto.
A grande força deste projecto é o cuidado que foi dado à volumetria do conjunto e aos pequenos promenores que revelam a qualidade construtiva. Os alçados revelam a diversidade na unidade. A frente do edificio voltada para a zona pedonal que serve de distribuição para os diferentes edificios existentes nesta área, é composta por vãos simples, mas desobedençendo a um alinhamento repetitivo, criam uma dinâmica silenciosa, que é interrompida pela introdução de varandas, ou pela propria volumetria do edificio que cria excepções no conjunto.
O alçado principal que se debruça sobre o rio, introduz uma vivacidade e um ritmo que ajuda a desenvolver os terraços....visto que são de dimensões consideráveis, e dessimula a horizontalidade os diferentes pisos, num verdadeiro puzzle tétrico denotando diversas tipologias e diferentes modos de habitar.
Uma pequena nota, para os armários exteriores, colocados nas varandas, que sendo desenhados de raiz, resolvem uma situação que poderia ser constrangedora para o resultado final da proposta, que seria a colocação de módulos de diferentes cores e feitios por parte dos proprietários.
















Projecto: Habitação
Localização: Agrippinawerft, 50668 Colónia, Alemanha
Ano: 2006

13 setembro, 2008

RETRO - Futurismo

O fotógrafo francês, e editor-chefe da "citizen k", senhor Frédéric Chaubin, deambulou durante cinco anos da sua vida por entre a agreste região do Cáucaso, a rússia, a ucrânia, a bielorrússia e os países bálticos, à procura de velhas relíquias arquitectónicas da época soviética, nomeadamente as que eu aqui disponho, fusão entre distopia totalitária e ficção científica retro-futurista, patentes na exposição intitulada "utopia", extensão da photoespaña2008 no centro cultural de belém, lisboa, a visitar com algum interesse...«a ideia da utopia como um paraíso na terra tem pairado de forma persistente sobre o pensamento ocidental, século após século. Os relatos escritos sobre tais utopias imaginárias não só foram utilizados para criticar as relações sociais então existentes, como também para sugerir um modo de vida diferente, e melhor. Ora o poder destes registos produziu consequências reais que ultrapassam a mera literatura. No século xx, a ideia de uma sociedade utópica impeliu grandes movimentos políticos. Transversal a diferentes fronteiras ideológicas, a utopia tem sido ponto de partida para operar mudanças políticas e sociais. A sociedade perfeita, um local de harmonia, paz e igualdade para todos: este não era apenas um projecto imaginário, mas algo que podia ser construído.» [excerto do prospecto da exposição].
.
Ialta, Ucrânia.

Tbilisi, Geórgia.

Kaliningrad, Rússia.

Tbilisi, Geórgia.

Ordos Villa projectada pelo Estudio Barozzi Veiga

Os arquitectos espanhóis do atelier Estudio Barozzi Veiga projectaram um edificio de habitação para uma zona interior da Mongólia, China, integrado no projecto Ordos 100.
ESte projecto de habitação faz parte de um conjunto de 100 residências, todas elas desenhadas por diferentes arquitectos escolhidos pelo atelier suiço Herzog & de Meuron para o projecto Orods 100, cuja autoria do Masterplan é do artista Ai Wei Wei.
A informação que se segue é proveniente do site do atelier espanhol:
















Private Villa

Ordos, Inner Mongolia, China

Private commission

It was our challenge in this project to find an original architectural expression for the program, which is compatible with the beauty of the site and the cinematologic elements.
Our proposal intends to translate this idea of essence and pureness present in the context, in the composition of the project. It will create a space that absorbs and intensifies the character of the place and the surrounding elements.
In contrast with the rough open space of the surrounding. The plan of the house is a pure form, a perfect square. The building appears like a monolithic cube, raised from the earth as an archaic stone. This sensible and pure building is defined by two essential elements: a glazed patio and an expressive roof.
This patio refers to the traditional Chinese houses, organised around a patio. At the same time, it allows the house to change its inner climate from winter to summer and offers the possibility to create a complex interior world with different visual and spatial relations.
The roof defines the house as the solidification of a traditional nomadic tent, an element that covers, protects and marks the place.

08 setembro, 2008

Museo Reina Sofia - Um lifting na Cidade

Fruto dos sinais dos tempos, os grandes museus da capital espanhola foram sujeitos a algumas intervenções, umas de carácter mais profundo e radical outras pequenos melhoramentos de fachada, com o intuito de "actualizar" as Grandes Senhoras de Madrid. Estas operações de cosmética, com resultados para todos os gostos, podem ir desde o toque discreto e suave que Rafale Moneo preconizou na coroa da jóia desta cidade, o Prado, ou para quem seja fã do rigor suíço, encontramos uma proposta radical e cirúrgica (houve mesmo uma remoção "clínica" de parte do volume existente) do atelier suíço Herzog & Meuron, na Caixa Fórum. No entanto, o primeiro destes a ficar pronto a ser visitado foi o Museu Reina Sofia, o museu de Arte moderna espanhol, depositário da Guernica de Picasso. Com uma cobertura flamejante, de um vermelho cor de sangue, Jean Nouvel introduz uma nova silhueta ao skyline da cidade madrilena. O edifício projectado pelo arquitecto francês privilegia o anonimato cívico, e centra-se hermeticamente no conceito de interioridade, reintrepertando o arquétipo conceito dos velhos conventos com os seus claustros. Novos espaços de exposição, uma biblioteca, auditório e um restaurante são colocados em redor de uma praça interior coberta, que através do plano superior abraça todas estas funções. Aberturas acutilantes enfatizam a profundidade da cobertura e deixam a luz entrar quase com uma intensidade Piranesiana, criando um efeito tanto opressivo como dramático. Sem dúvida um espaço refúgio, quando a escassos metros temos uma das estações mais movimentadas da cidade, a Atocha. No entanto, algumas das fragilidades do projecto estão relacionadas com o facto dos volumes serem essencialmente caixas entaipadas, que sugam a vida da praça interior, tornando este um espaço frio e deserto por vezes. A introdução de peças de escultura veio dar um carácter pictórico à praça, assemelhando-se a uma paisagem surrealista, no entanto o carácter humano continua muito ausente. Pela positiva, destacar a biblioteca, semienterrada, desenvolvendo-se em diversos pisos, que se desenvolve ao longo do alçado da rua “Ronda de Atocha”. O uso da madeira em todo o mobiliário, e a iluminação suave contribuem para o carácter de introspecção que este espaço necessita, além do facto de a sala de leitura se localizar abaixo do nível da rua, permitindo assim abrir envidraçados para ambos os lados, tanto para a praça interior como para a rua principal, sem no entanto interferir com a concentração dos leitores e permitindo a entrada de luz natural, essencial nestes espaços.