27 março, 2007

> Casa Ecker Abu Zahra

A casa que aqui hoje vos deixo situa-se na cidade de Luftenberg, Áustria, numa zona florestal no cume de uma montanha. Este local previligia de excelentes eixos visuais abertos pelas encostas mais próximas e de uma mutação espacial constante produzida pela mancha florestal que a circunda.

É neste contexto que a casa Ecker Abu Zahra se insere tentando tirar partido desta localização priviligiada, das suas vistas longínquas e do cenário mutante produzido pelo 'verde'.

Conceptualmente define-se como um cubóide de planta quadrada, revestido a cobre com aberturas para exterior que surgem como uma natural reacção às vistas que atrás referi.

Interiormente é composta por dois pisos com divisões dispostas em L em torno de uma sala ampla de pé direito duplo. A tonalidade Beije aplicada nas superficies interiores é justificada como um sublinhar da estrutura interior criando um contraste silencioso com as amplos vãos envidraçados.










Arquitectura: Hertl-architekten

Localização: Luftenberg, Áustria 2004-2006

Fotografia: Hertl-architekten

25 março, 2007

Projecto VIVA

O resultado de um acordo entre o Ministério da Habitação Espanhol, através do SEPES (Entidade Pública Empresarial do Solo) e os governos locais e regionais, possibilitou a formulação de um projecto que permite num futuro próximo a criação de 23000 habitações subsidiadas pelo estado Espanhol. Esta intenção do estado espanhol deverá servir de exemplo para a realidade portuguesa, pois o estado não se pode demitir da sua responsabilidade de garante de habitações em condições adequadas de higiene, salubridade, construtivas e espaciais. Assim, não só permite controlar de certo modo o mercado imobiliário através da introdução de um elevado número de oferta a preços mais acessíveis, boicotando muita da especulação mobiliária que teima em resistir, além de obrigar a um garante de qualidade de design e construtiva que variadas vezes o mercado privado não respeita, preocupado unicamente com o lucro fácil e imediato.
Embora muitas das vezes as boas intenções não saem do papel, no caso desta resolução do governo espanhol nasceu o concurso “Proyecto VIVA” que irá permitir numa primeira fase o concurso em 7 diferentes locais do país para um total de 5,688 habitações. Por ser um concurso aberto a todo o universo de arquitectos, evitando assim os compadrios e os concursos por convite que se tornam pratica cada vez mais corrente no nosso pais, irá permitir que os jovens profissionais do ramo possam ter uma oportunidade de participar de igual para igual, podendo em caso de vitória, ter a possibilidade de construir. Além disso, este concurso serve de plataforma para fomentar a discussão e a busca de soluções inovadoras, buscando novas perspectivas de abordar a temática da habitação. Embora não seja esta uma prática corrente no nosso pais, os resultados verificados noutros países demonstram o oportunismo e a necessidade destes concursos, sendo o exemplo Holandês o verdadeiro paradigma, do qual destaco a extensão da cidade de Amesterdão através do projecto urbano de Borneo Sporenburg, o qual se tornou verdadeiro laboratório de novas soluções arquitectónicas e urbanas e abriu portas a uma nova geração de arquitectos que de outro modo teriam dificuldades acrescidas em mostrar obra feita. Em Portugal por seu turno, as situações mais parecidas a nível de experimentação arquitectónica que encontramos (Vila Utopia, Bom Sucesso) são fruto da iniciativa privada que se socorre de arquitectos de créditos firmados para manter uma oferta de qualidade que vá ao encontro das classes mais abastadas através de condomínios privados, as quais embora possam ser oportunidades de exploração arquitectónica devido ao carácter excepcional da encomenda, nunca vão ao encontro de uma arquitectura social, acessível a todo o cidadão e que resolva os problemas que se colocam à sociedade e aos menos favorecidos.
Retomando o Projecto VIVA, é intenção dos seus promotores a criação de um espaço de reflexão sobre os diferentes modos de habitar frutos das novas necessidades que surgem devido ás mudanças no espectro familiar. Assim estão lançados os ingredientes para o surgimento de metodologias de projecto que levem à experimentação de novos designs urbanos e arquitectónicos.
A variedade dos sete projectos (Astúrias, Castilla la mancha, Galicia, Madrid (duas áreas designadas), Valência e Ceuta) permite o desenvolvimento de um leque variado de propostas, que terão responder a uma diversidade de problemas fruto das diferentes especificidades que os locais a concurso apresentam.
Os resultados finais já saíram a público, e aguardamos agora que os trabalhos comecem nos locais designados.
Aqui ficam algumas das propostas vencedoras.



Principado de Asturias
Mieres - Vasco Mayacina - 711 vivendas



Projecto: De Piedra Y Talla
Autores: Maria Torregrosa, Jorge Díez




Projecto: Vivazz
Autores: Brenardo Malatesta, David Rubio




Projecto: 16 Rotulas
Autores: b720 Arquitectura S.L.


Castilla - La Mancha
Guadalajara - Aguas Vivas - 2114 vivendas





Projecto: Jardín Ciudad
Autores: Luis Crespo, Inés Robles, José Martínez



Projecto: La Calle se Arruga
Autores: Juan Bermejo, Camila Rodríguez

Galicia
Carral - Os Capelos - 320 vivendas






Projecto: ELE
Autores: Jorge Tomás, Fernando López


Madrid
Navalcarnero - B. San Isidro - 1503 vivendas




Projecto: Cual Piuma al Vento
Autores: Cristina García, Carlos Suárez, Aida Flores, Cristina López




Projecto: C.I.R.P.A.C.`06
Autores: Geraldo Hernández, Mateo Calvo, Marcos Calvo


Valencia
Utiel - La Celadilla - 98 vivendas



Projecto: QBT-Ando
Autores: José Luis Fraga


Ceuta
Ceuta - Loma Colmenar - 839 vivendas






Projecto: Long and Winding Road
Autores: Sabtiago Gaya, José González, José Folguera, Alonso Balaguer




Projecto: PEGY 761
Autores: Laura Peretti, Stefano Ghiretti




Projecto: Vivienda Patrón
Autores: Elena Chevtchenko

Funny CAD



24 março, 2007

M-House à venda






O protótipo experimental de habitação modular móvel, conhecido como M-House será colocado à venda através da casa de leilões Wright a 25 de Março do presente ano. O comprador deste único exemplar receberá a “casa” desmontada, com todas as peças empacotadas, podendo assim, numa lógica de “faça você mesmo”, montá-la no local que desejar. O preço base é de 200.000 dólares.

M- House, projecto da autoria do arquitecto Michael Jantzen, faz parte de uma estratégia de busca de soluções modulares e flexíveis para a habitação, que se denomina “relocatable M-vironments”. Estes “habitat móveis” caracterizam-se por uma larga variedade de componentes manipuláveis que podem ser aglutinados de diferentes modos a uma matriz de painéis modulares. Estas estruturas podem ser combinadas de diferentes modos de modo a responder a um leque variado de necessidades do habitar.
No caso da M-House, consiste de uma série de painéis rectangulares que se encontram interligados através de dobradiças a uma estrutura de rígida formada pelas arestas de 7 cubos. A colocação dos painéis nos diversos módulos cúbicos poderá verificar-se tanto horizontalmente como verticalmente. O sistema de dobradiças com que os painéis estão ligados a estrutura matriz permitem-lhes desempenhar diversas funções. Alguns dos painéis são herméticos e contém janelas e portas. Através deles pode-se criar zonas completamente isoladas que podem ser conter a temperatura tornando o espaço agradável à função de habitar. Os restantes painéis que não possuem estas características, são usados essencialmente como deflectores da luz, protecção contra a chuva e barreira de vento. A flexibilidade dos elementos que constituem este sistema permite que alguns dos painéis possam ser movimentados de modo a se transformarem em bancos, camas, mesas de trabalho ou espaços de refeições.
A plataforma na qual acenta a estrutura cúbica, encontra-se sobrelevada em relação ao terreno através de pernas ajustáveis em altura, permitindo que estas se moldem em relação ás diferentes variações do terreno.
Tos os elementos que constituem este sistema podem ser permutávies, assim como a sua combinação pode variar em número e dimensão. Os painéis poderão ser produzidos também com formas curvas e de diversos materiais permitindo uma maior diversidade de resultados e uma maior personalização da estrutura.
A M-House foi projectada de modo a funcionar como uma habitação temporária ou como um pavilhão expositivo.
Outra característica interessante deste projecto, e sem dúvida cada vez mais uma necessidade nos tempos em que vivemos, é a capacidade desta estrutura modular poder ser auto-suficiente em termos energéticos através da colocação de sistemas de captação solar e eólico.


Via: Wallpaper magazine

23 março, 2007

O nascimento de um icone






J. Mayer H. Architects, a2o-architecten e Lens ass architecten, ganharam a competição de arquitectura para o desenvolvimento do quarteirão onde se localiza a estação de comboio de Hasselt na Bélgica. O plano urbano da autoria do atelier holandês West8 propõe para este novo empreendimento blocos de baixa densidade destinados a hotéis, escritórios e habitação, com a excepção de dois edifícios que deverão ser emblemáticos desta nova área urbana da cidade, sendo que um deles deverá ser o novo Palácio da Justiça de Hasselt. Este novo edifício deverá tornar-se um ponto fulcral na dinamização de toda esta área urbana. Este edifício caracteriza-se por um design expressivo, projectando uma imagem fragmentada através da estrutura de metal e vidro, cuja forma poderá assemelhar-se a uma árvore. Volumétricamente salienta-se um embasamento de seis pisos que é coroado por uma estrutura com mais 9 pisos.
Prevê-se a conclusão dos trabalhos em 2010.

17 março, 2007

O valor da maturidade arquitectónica

Mestre da subtileza e escultor da luz, Álvaro Siza continua a não ser um arquitecto que pretenda espantar as massas com edifícios estonteantes e formas arquitectónicas demasiado complexas. Embora, por vezes de difícil leitura a um olhar desatento, os seus projectos revelam uma maior exploração das possibilidades do léxico arquitectural, especialmente no que toca ao contexto, espaço e acima de tudo luz, do que em relação a outros da sua geração.
A sua atitude ponderada em evitar as luzes do mediatismo, reflecte a sua predilecção por projectos onde o verdadeiro valor acrescentado deve ser a arquitectura e a resolução do problema que o cliente apresenta, evitando os concursos da moda, onde tubarões atraídos pelo bafio dos média e dos milhões desfilam mostrando os seus portefólios carregados de lixo visual. Assim não é de espantar quando tomamos conhecimento da sua mais recente contribuição para a arquitectura da cidade espanhola de Barcelona se localizar longe dos habituais locais turísticos, longe das multidões e do centro citadino. Em Cornellà de Llobregat, uma modesta área residencial na periferia de Barcelona, o testemunho deixado pelo projecto de Álvaro Siza para um complexo desportivo, contagia o local com uma marca de contemporaneidade, enquanto espectantemente o território aguarda que este novo epicentro desportivo da área urbana de Barcelona ganhe forma, enquanto não é concluído o novo estádio do Espanhol Futebol Clube, da autoria do atelier de engenharia holandês Arup.
Visto de longe o projecto de 40000m2 para um centro desportivo com diversas áreas recreativas, orçado em 20 milhões de euros, marca a paisagem pela sua dimensão, mas sem se tornar predominante. A escultórica massa de betão branco abraça uma praça, enfatizando o carácter público do edifício, que se projecta desde a rua até encontrar refúgio no hall de entrada do edifício. Nesta zona, apercebemo-nos logo da marca pessoal do arquitecto. Paredes revestidas a estuque branco, aberturas na cobertura para iluminação zenital e volumes monolíticos que de algum modo parecem desafiar as leis da gravidade, são elementos suficientes para criar uma atmosfera etérica que demonstra como a linguagem arquitectónica utilizada por Siza consegue evocar o intangível através do tangível. Mas a verdadeira experiência do sublime encontra-se ao fundo de um dos longos corredores do complexo, onde uma vasta piscina coberta, inserida dentro de um templo elíptico perfurado por entradas de luz circulares que pautam toda a cobertura reflectem a sua presença na superfície cristalina da água. O efeito conseguido pode-se assemelhar a um imóvel disco que tranquilamente se retém sobre a austeridade de um templo sagrado, um pouco à imagem do Panteão de Roma.
Nas próprias palavras de Siza, este complexo é “uma pequena contribuição para a melhoria da qualidade de vida em Cornellà”.
Não é com espanto que o Prémio Secil referente ao ano transacto tenha sido entregue (pela terceira vez) ao arquitecto Álvaro Siza, precisamente com este projecto. A maturidade com que Siza domina a liberdade do gesto de desenho, a afirmação da linha curva como exclamação no seu discurso arquitectónico, reflecte-se nos seus mais recentes projectos, reforçando a plasticidade formal dos volumes e a forma sedutora com que harmoniosamente criam um todo, cujo resultados podemos comparar aqueles conseguidos pelo mestre Niemeyer. Áqueles que durante anos profetizaram o fim da linguagem depurada, cansada e minimalista de Álvaro Siza, encontram neste projecto mais uma cabal resposta da capacidade que este tem de se reinventar, pautando sempre por respeitar e honrar valores que cada vez mais são substituídos por novas tendências que carecem de conteúdo.
Esta não é, porém, a primeira vez que Siza projectou piscinas para a população real, as gentes de um povo. Um dos seus trabalhos primários e mais aclamados foram as piscinas de Leça da Palmeira, construídas em 1966, onde a comunhão da intervenção com o local evidenciam uns dos temas mais caros ao arquitecto, o território.
Em Cornellà, Siza não só atingiu um dos seus objectivos – projectar para as pessoas – como também exerceu a sua paixão pela escultura através da arquitectura, usando a luz e a água como matéria de manipulação.
.
Post baseado no artigo da publicação Frame, nº 52
.




Imagem: Ducio Malagamba