29 dezembro, 2008

Adega Vale de Algares

Espaços de culto, mágicos, que parece que deixam sempre algo mais a revelar, assim são as adegas. Os anos passam, as tecnologias afinam-se e renovam-se, mas a alma e a essência, essas ficam, enraizadas na história destes lugares. Chama-se Adega Vale de Algares, nasceu no Cartaxo, numa propriedade de 1,03 hectares que em tempos esteve relacionada com a produção vinícola, e está inserida num complexo que foi reformulado e no qual foi acrescentado um conjunto de novas valências. O terreno tinha uma forma irregular e estava pontuado com ocupações envelhecidas, resultando num conjunto dissonante, onde construções de interesse patrimonial intercalavam com outras sem valor. Contudo a revitalização da actividade vinícola e as suas vivências era um dos pontos chave desta intervenção.
Foram assim aproveitadas algumas das construções existentes e propostos novos volumes para dar vida à propriedade. Entre os espaços criados encontra-se a Adega de Vale de Algares, um projecto assinado pelo gabinete Tall and Taller e pela arquitecta Cristina Santos Silva.
O existente foi modernizado, as características arquitectónicas encontradas foram mantidas porque elas eram a sua essência. “Zonas de recepção de produto, prensas, lagares, cubas e balseiros de fermentação e reserva, laboratório de campanha e gabinete do adegueiro”, eis os espaços que deram corpo a esta adega. Projectado em cave, o que enfatiza o grau de misticismo e de secretismo, o mesmo foi construído sob um pátio interior que é definido pelo espaço entre os edifícios com frente para os arruamentos envolventes. É nesta cave que se encontram as zonas de estágio mais prolongado em pipa, assim como a sala de enchimento com a respectiva linha de engarrafamento, áreas de garrafeira e um conjunto de espaços de apoio, de onde, sobressai a sala VIP, preparada para receber diversos eventos relacionados com a adega.
Além disso, foram criadas diferenças de nível entre as áreas de estágio, mudanças de pé-direito, alterações de tratamento nos elementos estruturais, tudo isto concorre para um conjunto que se quer rico na linguagem arquitectónica utilizada.

Texto retirado da revista “Traço” edição de Dezembro de 2008

28 dezembro, 2008

Harmonia 57

O projecto “Harmonia 57”, situado na Rua da Harmonia em São Paulo, é da autoria do atelier Franco-brasileiro Triptyque. Tal como um organismo vivo, este conjunto ‘respira’, sua e modifica-se, transcendendo a sua inércia. As paredes exteriores são espessas e revestidas por uma ‘pele vegetal’ feita de betão orgânico poroso, por entre o qual crescem diferentes espécies de plantas, conferindo-lhe este aspecto único.

Neste complexo ecosistema as águas provenientes da chuva e subsolo são drenadas, tratadas e reutilizadas recorrendo-se a um sistema multifuncional constituído por diferentes mecanismos interconectados.

As suas ‘entranhas’ estão aparentes nas fachadas exteriores enquanto os espaços interiores são dotados de superfícies limpas e luminosas como se tratasse de uma construção virada do avesso. As canalizações que percorrem todo o edifício, bem como o sistema de bombeamento e tratamento de água, estão expostos nas paredes exteriores, envolvendo-o como se de veias e artérias de um corpo humano se tratasse.

De aspecto neutro, de base cinza, esculpida e deformada, a sua estética é resultado de um processo que tenta espelhar uma preocupação ambiental e de investigação de novas formas de composição e intervenção.

Volumétricamente é simples, mas notável: é constituído por dois blocos ‘verdes’, interrompidos por volumes em vidro e betão e terraços, ligados por uma ponte metálica. Entre os dois blocos gera-se um pátio interior, um espaço de encontro de convívio exterior.

Os terraços encontram-se distribuídos por entre os diferentes andares, criando um jogo visual entre os dois volumes, trazendo luz e transparência aos espaços interiores. Estes espaços permitem também contemplar a cidade de São Paulo de diferentes ângulos.

O bloco frontal está completamente ‘suspenso’, suportado por pilotis, enquanto o bloco traseiro é sólido e está ‘agarrado’ ao solo e é complementado por pequeno bloco assente no seu topo.

O resultado desta composição prima pela riqueza dos diferentes espaços, vivências e texturas que se vão transfigurando através de um processo natural e biológico sobre um suporte de aspecto inacabado.

Algumas visualizações conceptuais:


Imagens pós-construção:





















20 dezembro, 2008

Richard Rogers: "Thoughts on the Design of Cities and Buildings"



No passado dia 9 de Dezembro Richard Rogers partilhou, perante uma modesta audiência, alguns pensamentos sobre "O Desenho da Cidade e dos seus Edifícios". Durante cerca de 50 minutos foram debatidos assuntos tais como a sustentabilidade dos núcleos urbanos, a necessidade da sua densificação, a sua escala, a importância da recuperação e adaptação do edificado mais antigo às novas exigências sociais, o preenchimento dos vazios urbanos existentes em contradição a uma expansão periférica e a necessidade de tornar a cidade como um núcleo eficiente, autónomo e capaz de competir com os outros núcleos. Todas estas reflexões foram ilustradas com recurso a exemplos contemporâneos e a diagramas que identificam fortemente a posição deste arquitecto: o de que a cidade é um local de encontro por excelência, de cidadania e onde a pessoa singular poderá cooperar para o bem comum.

A conferência foi gravada e encontra-se disponível na Web. Convido-os veementemente a perder algum tempo e assistir a esta breve mas proveitosa palestra.

Para visualizar clique
aqui.

19 dezembro, 2008

Uma casa para dois mais um cão

Se me pedissem para definir a disciplina de Arquitectura através da selecção de um projecto este seria sem dúvida um exemplo dogmático. Conceitos como Escala, Luz, Sombra, Vazio, Espaço, Interior, Exterior, Proporção...poderia continuar sem fim a explanar a gramática de termos que definem a sintaxe da expressão arquitectónica que todos esses termos iriam encontrar significado neste Projecto, devido à mestria com que todos esses pressupostos estão integrados num só gesto arquitectónico. É um verdadeiro compêndio sobre a dimensão da Arquitectura.
O responsável pelo meu entusiasmo é o estúdio de Arquitectura Japonês Sou Fujimoto Architects. Para terminar só queria deixar esta ressalva, é impressionante como um país como o Japão, cuja arquitectura contemporânea é fruto, claramente da influencia ocidental, consegue assimilar, adaptar, e ir mais além no modo de pensar Arquitectura, mantendo-se fiel à verdadeira essência do espaço sem comprometer com cedências, criando verdadeiras peças de Arte Habitáveis!
As imagens falam por si!

Arquitectos: Sou Fujimoto Architects
Localização: Oita, Japan
Equipe de Projecto: Yumiko Nogiri
Concepção: 2006-2007
Construção: 2007-2008
Area do Lote: 236,57 sqm
Area Construida: 150,57 sqm
Fotógrafo: Iwan Baan
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.(Obrigado Arquitecta, a partilha dá outra dimensão á existência).
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"Uma casa para dois mais um cão. A casa em si é composta por três layers que progressivamente se vão reduzindo no interior uma das outras. A layer exterior cobre todo o perímetro da área habitável, criando assim um espaço exterior, com um carácter semi-privado e semi-coberto. A segunda layer encerra um espaço dentro da área exterior. E a última zona cria um espaço interior mais reduzido. È dentro desta gradação de espaços que os residentes estruturam o seu habitat.
Sempre tive as minhas reservas em relação à separação entre casas e ruas ser feita somente por uma simples parede. Porque não uma gradação de espaços, acompanhada com diferentes noções de distancia entre ruas e casas? Poderíamos ter um espaço dentro da casa com uma forte relação de proximidade com o exterior, um espaço mais reservado do exterior, e outro espaço completamente privado, quase sem qualquer relação com a área pública.
È por esta razão, a completa ausência de uma barreira sólida entre a realidade pública, e a realidade privada, que viver nesta casa se assemelha a viver num espaço etéreo. Não existe uma fronteira clara, somente diferentes noções de espaço. Poderemos afirmar que o ideal de Arquitectura seria um espaço exterior que transmitisse uma sensação de interior, e um espaço interior que tivesse também as qualidades de uma área exterior. Numa estrutura em camadas, o interior é invariavelmente o exterior e vice-versa. A minha intenção era desenvolver um projecto cuja ênfase não estivesse orientado para a forma e o espaço, mas simplesmente expressar a riqueza que existe nas diferentes cambiantes dos interstícios entre rua e casa.
Na minha opinião, Cidades e Casas não são muito diferentes umas das outras na sua essência, somente se resumem a distintos modos de abordar os diferentes significados de um mesmo conceito, ou diferentes expressões de uma mesma realidade: a flutuação do espaço onde os seres humanos habitam.
Esta Casa apresenta-se como um manifesto, demonstrando como se pode projectar uma habitação usando o mesmo método para desenhar um quarto, uma rua, uma cidade, uma região."

Design - Reinier de Jong

Apresento-vos duas peças do designer holandês Reinier de Jong que me chamaram atenção pela sua simplicidade e versatilidade.
A peça REK distingue-se pelo modo como se consegue expandir e retrair, assemelhando-se a um acordeão, podendo ir adaptando-se às necessidades do utilizador em expor mais, ou menos, peças, livros, o que seja!
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A estante STAPEL tem igualmente um design objectivo onde se pretende equilibrar os vazios com zonas fechadas permitindo expor e ocultar objectos. As portas translúcidas deslizantes permitem enfatizar essa situação.
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