14 setembro, 2010

MFO Park

A reutilização de espaços obsoletos consiste num dos maiores desafios que a nossa classe enfrenta diariamente. As cidades, e o seu modelo de crescimento, são ávidas na criação de zonas urbanas, edifícios singulares obsoletos, que devido à velocidade da mudança de gosto e paradigmas levam a que as novas tendências ocupem o espaço de destaque que antes lhes pertenciam... a tendência precedente. Estes locais, que são deixados para trás na memória de quem neles viveu, são esquecidos por aqueles cujo interesse passa pela mestria em vender imagens de modernidade e sofisticação - o chamado brand-new! Apesar disso, são esses espaços remetidos ao abandono urbano que acarretam a maior das qualidades, a absorção das diferentes vivências que os seus utilizadores proporcionaram, são espaços que contam histórias, que nos fazem lembrar de onde viemos, quem somos e nos abrigam para podermos sonhar, porque acarretam nas suas paredes, nas suas cores, nos seus materiais o conforto humano que somente existe num espaço que já foi habitado. Definirei essa característica como um zeitgeist vivencial.

Pois bem, o projecto em causa demonstra claramente como uma estratégia simples poderá devolver um espaço perdido ao mapa de uma cidade.

Este projecto possui duas qualidades, uma já referida, o facto de ter reaproveitado uma estrutura edificada existente, neste caso concreto uma antiga unidade fabril, e a outra característica importante, foi tê-lo feito através de uma estratégia de baixo custo, mínimo impacto, assente numa ideia social tirando partido da força transformadora da Natureza. No fundo o autor do projecto procurou fazer o contrário do conceito de humanização da paisagem, procurou naturalizá-la. Esta estrutura per si existente, decadente, sem qualquer uso específico e demasiado agressiva ao contacto e vivência humana, transformou-se num Jardim de Éden, um local de encontro, de descanso, de introspecção, de contemplação...
A arquitectura nos últimos séculos acentuou uma tendência que privilegia a tecnologia e a matéria fabril na criação de ambientes, de espaços, na busca de materiais que transmitam prazer e sensações. Têm-no feito através de diversificados tipos de revestimentos, com diferentes texturas e opacidades, com os mais sofisticados sistemas de iluminação com diferentes colorações e intensidades. No entanto tudo isto deixa de fazer sentido quando nos apercebemos como é revigorante sentarmo-nos num banco de jardim e deixarmo-nos envolver pelas cores, cheiros e sons que a natureza nos oferece.
Este é o dom que este espaço me ofereceu.

Projecto: MFO Park
Autor(es): Burckhardt+Partner / Raderschall Landschaftsarchitekten
Ano conclusão: 2002
Localização: Oerlikon, Zürich, Switzerland



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