Este último domingo resolvi combater a "preguicíte aguda dominical" e convenci-me que seria interessante ir visitar as ruínas das galerias romanas que se situam por baixo da Rua da Prata, as quais eu desconhecia por completo da sua existência, mas que ao ouvir na rádio a divulgação da abertura destas ao público, a única vez este ano, deixou-me entusiasmado. Primeiro, porque sinto cada vez mais a necessidade de conhecer a cidade que me recebe todos dias, e que aos poucos me vai enamorando com a promessa de uma vida melhor numa qualquer janela com uma vista soalheira sobre o rio e as pedras da calçada; além de que constato que conheço melhor algumas cidades estrangeiras do que propriamente a capital da minha pátria. Pois bem foi imbuído neste espírito que acordei às 8h da manha....para estar em Lisboa às 9h para depois estar na Baixa às 10h. E assim foi, pelas 10h da manha abriram as portas das galerias, e às 10h já eu estava numa fila que ja tinha o tamanho de 3 quarteirões pombalinos! Depois de um calculo rápido, a modos de contas de mercearia, contaram-se os vãos das fachadas, multiplicou-se pela medida óbvia do mesmo...somaram-se os quarteirões, e estipulou-se o tempo/metros k a fila se movia...e bem...noves fora nada, lá para as 13h30 no máximo deveria estar a molhar os meus pés dentro das galerias. Pois bem....eram 16h30 (já depois de muita conversa com uma idosa da Lapa que por engano despendeu um domingo inteiro para ir visitar umas ruínas, quando constatou k no ano passado já as tinha visto, e com uma "típica" família onde ainda os filhos brincam com os pais e aceitam passar um domingo a ver cenas buéda caretas sem fazer chantagem psicológia), pude descer ao passado, aos vestígios da cidade Olissipo que na actualidade dá pelo nome de Lisboa.
A visita foi curta, mas rica...além de ser sempre impressionante estarmos num local com 2000 anos de história.
Deixo-vos com algumas informações retiradas da agência Lusa sobre este espaço que se encontra escondido num dos locais com que mais nos identificamos na cidade de Lisboa, a Baixa-Pombalina.
"Durante uma visita, (...) o arqueólogo do Museu da Cidade, António Marques, disse (...) que o local «mais emblemático é a Galeria das Nascentes», onde brota do chão água proveniente das correntes freáticas que atravessam os subsolos da Baixa Pombalina.
A Galeria das Nascentes é uma estrutura, a cerca de cinco metros abaixo do solo, com aproximadamente doze metros de abobada em pedra e tijoleira.
As galerias estão fechadas ao público, por estarem sempre submersas com cerca de um metro e meio de água, sendo visível nas paredes as marcas de nível ao longo das ruínas, mostrou o arqueólogo do Museu da Cidade.
Mas, a partir de sexta-feira e até domingo, as pessoas podem visitar gratuitamente o local «entre as 10h00 e as 18h00», disse António Marques, adiantando que, em 2006, as galerias receberam cerca de 5 mil visitantes.
Descoberta durante a reconstrução da cidade após o grande terramoto de 1755, a estrutura foi alvo de várias teses sobre a sua função original sendo hoje quase unânime que seria um criptopórtico.
Os criptopórticos eram construções abobadadas, adoptadas pelos romanos em terrenos instáveis ou irregulares para criar uma plataforma de suporte a outras edificações, normalmente públicas.
As características construtivas, o tipo e os materiais utilizados sugerem uma construção da época de Augusto, entre os séculos I antes de Cristo e I depois de Cristo, contemporânea de outros grandes edifícios públicos da então cidade de Olisipo.
As primeiras notícias sobre um vasto conjunto de galerias no subsolo de Lisboa surgiram em 1771, mas «a incipiente noção de património na altura levaria a que apenas uma inscrição romana dedicada a Esculápio (Deus da Medicina) fosse salvaguardada», segundo informação divulgada pelo museu da cidade.
Em 1859, obras de saneamento permitiram, «pela única vez», observar restos das construções romanas que se erguiam sobre as galerias. Foi feito «um levantamento exaustivo» das ruínas, num dos trabalhos arqueológicos pioneiros na cidade, pela mão de José Valentim de Freitas.
Em declarações hoje à Lusa, Gomes Mota, engenheiro responsável pelo levantamento tridimensional das galerias, adiantou que uma equipa de engenharia de uma empresa está a fazer gratuitamente o levantamento da estrutura com recurso a tecnologia lazer, para recolher em três dimensões e em suporte electrónico o espólio.
Os engenheiros esperam concluir a recolha de dados ainda hoje e proporcionar uma visita virtual às Galerias e corredores via Internet, acrescentou.
As galerias foram apenas abertas para visitas esporádicas de jornalistas e investigadores, iniciadas em 1909, sendo à data conhecidas como "Conservas de Água da Rua da Prata" por serem usadas pela população como cisterna.
Apenas uma vez por ano é possível descer às galerias, pois «encontram-se com um nível de água elevado cuja bombagem é um processo moroso e que levantaria problemas de conservação do próprio edifício e dos edifícios pombalinos anexos se retirada mais amiúde»."