Ao chegar ao largo da nova igreja matriz a primeira imagem que temos do Museu da Memória é a de uma parede de xisto, lisa, nos tons castanho esverdeado e avermelhado que a pedra assume na região — os vermelhos são particularmente especiais porque evocam o banco de xisto que se encontra junto da actual igreja a que o povo chama de “borras de vinho”. Esta parede impede-nos a vista que poderíamos ter sobre a albufeira, mas integra-se completamente na paisagem, como se o pavimento de xisto que ali cobre o solo se materializasse numa parede. Para entrar no Museu temos de contornar a parede e descer uma rampa que nos projecta na imensidão alentejana, mas que dentro de alguns anos será a de um lago a perder de vista. Também aqui o xisto é o material de eleição que ocupa a quase totalidade do edifício. A excepção é a Sala da Luz, a jóia da coroa do Museu. Este espaço, revestido a branco em todas as superfícies e furado por uma chaminé que o inunda de luminosidade, poderia ser, de acordo com Pedro Pacheco “um elogio às qualidades naturais do sítio”. A Sala da Luz é também um ponto de relação entre o interior e a paisagem ao abrir-se num pátio e ao lançar o nosso olhar para o Monte dos Pinheiros, que ficará depois de a barragem encher como a referência daquela que foi a aldeia da Luz.
In Publico 17.04.2002
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