Bom dia caros colegas e amigos!
Como alguns de vós devem saber, devido às minhas tentativas para vos convencer a participar, ontem teve lugar na O.A. a apresentação dos trabalhos vencedores do EUROPAN 10 nos locais do Entroncamento e Cascais.
Antes de vos relatar a minha opinião geral sobre os trabalhos, gostava de realçar a dificuldade que os portugueses têm em comunicar em público e falar sobre arquitectura de uma forma estruturada, simples e cativante…temos muito a evoluir nessa área se queremos fazer passar a nossa mensagem junto as massas e dos prováveis “clientes”. È obvia que esta minha opinião revelou-se imediatamente pois tinha ainda fresca na minha memória a conferência de Bjarke Ingels (BIG) no TED Talks (aconselho vivamente que quando tiverem um bocadinho façam uma busca no youtube e percam 15 minutinhos do vosso tempo).
De resto as apresentações foram normais.
A equipa de Elisa Pegorin e Pedro Dias com o projecto de “Cidade Arável” apresentaram uma proposta onde procuram conciliar as ambições oníricas do Homem Urbano que procura viver no campo mas que possa ir às compras ao DolceVita. A Estratégia assenta numa ocupação do solo de baixa densidade, onde grande parte do seu uso está destinado ao conceito de Hortas Urbanas, criando assim um parque temático, com zonas de pomar, relvado, hortas, cultivo de flores. A proximidade do novo Hospital de Cascais assume-se através da colocação de blocos habitacionais em forma de U com logradouro virado para o interior da proposta, optimizando as vistas para o núcleo hortícola enquanto faz uma barreira de protecção e estabelece um paralelismo volumétrico urbano com os blocos de 4 pisos. A nova linha proposta do metro de superfície da região de Cascais é o eixo principal no qual assentam as infra-estruturas da proposta, introduzindo novos usos como o pedonal e o cicloviário.
Aparentemente a estratégia está bem consolidada e reflecte-se num desenho urbano capaz e bastante coerente e pragmático, embora sem grandes tentativas de inovação ou introdução de novos conceitos. No entanto, chamo atenção para como é que um plano destes pode sobreviver à pressão imobiliária dos terrenos afectos ao concelho em questão, onde a procura e o crescimento habitacional são assinaláveis, e até que ponto a introdução de hortas urbanas faz sentido num território que quando olhamos em redor é marcadamente rural, com baixa densidade, ou seja, estamos somente a dar mais do mesmo a estas pessoas. Se a proposta estivesse relacionada com algo mais do que a tentativa de tirar proveito do sentimento nostálgico que o português tem do uso e cultivo da terra, penso que seria uma proposta bem mais sustentável. È obvio que temos que procurar resolver os problemas um de cada vez, mas será esta a resposta mais assertiva às necessidades urbanas e de sistemas socioeconómicos do povoado da Aldeia do Cabreiro?
Em relação à equipe de futebol vencedora no local do Entroncamento (digo isto porque eram 10 elementos, entre os quais 4 arquitectos, 4 paisagistas e 2 modeladores de 3D) confesso que a apresentação prometeu muito no inicio… mas depois tudo se desmoronou num projecto com falta de integração e estrutura com o restante aglomerado do Entroncamento, onde o desenho urbano ficou carente pois o ênfase foi remetido para um conjunto de boas intenções programáticas e de financiamento da proposta.
O conceito geral do projecto estabeleceu-se em torno da ideia de fazer do entroncamento uma cidade criativa, a qual poderia ter uma série de relações com cidades de média escala ao seu redor, Tomar, Ourém, Fátima, Torres Vedras, Caldas da Rainha. Após isso descobriram que existiam fundos comunitários que poderiam ser aplicados num programa de reabilitação e fosse estruturado sobre estes princípios da inovação.
A proposta urbana em si defendeu princípios de acupunctura urbana. Mantiveram todas as linhas de caminho-de-ferro existentes e os bairros operários. Criaram uma espaço verde na área mais estreita da zona de intervenção, paralela à rua Eng. Ferreira Mesquita, de uso público pontuado por moradias isoladas destinadas a ateliers criativos, habitação para jovens e pequenos espaços comerciais. No fim dessa faixa surge uma nova urbanidade destinada aos serviços cujo programa na apresentação pareceu inexistente, assim como respectiva volumetria e ambiente urbano pretendido. Esta remata por fim com o Bairro de Camões de Cottinelli Telmo onde sem dúvida com alguma astúcia alteram o seu uso para integrarem um Hotel, previsto no programa de concurso. A originalidade da ideia residiu em manter as moradias existentes, assim como a Escola, para ai fazerem um hotel que se estendesse em cada uma das diferentes casas, como que cada uma dela fosse uma suite (esta é a minha interpretação da ideia tendo em conta as informações projectadas na conferência, visto que o autor não abordou como funcionaria o hotel, somente indicou a sua localização. A restante área do plano ficou entregue a zonas de bosque, conservando as vias de circulação que já estavam indicadas em sede de PDM pela Câmara do Entroncamento.
Em relação às passagens previstas em programa-base, entre as duas zonas da cidade dividas pela estrutura da REFER, é mantida a passagem subterrânea projectada no projecto para o novo Museu Nacional dos Caminhos-de-Ferro de Carrilho da Graça, e reformulada a sul a passagem aérea viária através da adição de mais elementos programáticos, como zonas comerciais, pedonal, ciclável, transformando-se numa espécie de mega-estrutura com 3 níveis, assemelhando-se a uma barragem.
No fim, a grande valia desta proposta reside no facto de a intervenção ser restringida ao mínimo assente numa estratégia global bastante forte e coerentemente apresentada. No entanto, isso por si não chega para ser um projecto vencedor, principalmente porque quando tentamos estabelecer um paralelo entre as intenções que tanto prometem e o plano urbano, ficamos com a sensação de que foi pouco aprofundado. Além do mais, e não menos importante, as premissas programáticas referiam 60.000m e 40.000m, os quais revelo a minha dificuldade em encontrar no meio dos prados e bosques propostos. Já para não falar da Arquitectura do plano, onde as poucas imagens incipientes mostram volumetrias banais com vivências rotineiras dos espaços, e tipologias pouco aprofundas e desenhadas.
Tendo em conta o que foi apresentado seria de esperar mais de um projecto vencedor.
Ao que a nós diz respeito e às ilações que devemos tirar, penso que as nossas ideias eram fortes mas careceram no final de algo muito importante, uma base que as demonstrasse. Ou seja devíamos ter perdido mais tempo a estrutura-las e em produção de peças para apresentação com uma linguagem clara e que não deixasse margem para duvidas quais eram as nossas referencias para o plano proposto. Ao invés o nosso plano está entregue um pouco a livres interpretações pois n existe esta base inicial desenvolvida, como esteve presente nos dois projectos vencedores. Sinto que desenvolvemos demais a proposta a nível arquitectónico, perdendo tempo com detalhes de regulamentação e outros mais que nas propostas vencedoras claramente denotavam a sua ausência. Devíamos nos ter ficado com as intenções… e eram boas intenções. Por isso aqui fica um estímulo para um futuro mais risonho.
Um pequeno reparo: cada vez mais observo o uso da palavra sustentabilidade para classificar projectos, como disso resultasse um selo de qualidade inerente. È certo que a sustentabilidade é urgente e necessária, mas quando usamos a expressão para justificar projectos onde se põem uns esquemas com ciclos de água e refrigeração teóricos, com uns poucos painés solares e ventoinhas eólicas no landscape, leva-me a perguntar depois onde estão as preocupações com os materiais construtivos, com os incrementos de maquinaria que por si só tem um ciclo de vida reduzido e cujo aproveitamento após fim de ciclo é praticamente impossível, com as lógicas de poupança de energia através do própria formulação das tipologias tirando partindo da exposição solar… quando por vezes bastaria usar métodos ancestrais de aproveitamento das águas das chuvas através da reserva de áreas de terreno para escoamento das águas naturais dos terrenos em redor, quando o uso de fachadas que permitam a ventilação das habitações, quando a própria mudança de hábitos de consumo e de habitar levariam a uma verdadeira mudança de pradigma. Mas espero que o Rodrigo quando vier nos possa contaminar com o conhecimento avantgarde que está a receber de forma podermos ter um conhecimento mais real desta matéria de estudo da arquitectura.
Como alguns de vós devem saber, devido às minhas tentativas para vos convencer a participar, ontem teve lugar na O.A. a apresentação dos trabalhos vencedores do EUROPAN 10 nos locais do Entroncamento e Cascais.
Antes de vos relatar a minha opinião geral sobre os trabalhos, gostava de realçar a dificuldade que os portugueses têm em comunicar em público e falar sobre arquitectura de uma forma estruturada, simples e cativante…temos muito a evoluir nessa área se queremos fazer passar a nossa mensagem junto as massas e dos prováveis “clientes”. È obvia que esta minha opinião revelou-se imediatamente pois tinha ainda fresca na minha memória a conferência de Bjarke Ingels (BIG) no TED Talks (aconselho vivamente que quando tiverem um bocadinho façam uma busca no youtube e percam 15 minutinhos do vosso tempo).
De resto as apresentações foram normais.
A equipa de Elisa Pegorin e Pedro Dias com o projecto de “Cidade Arável” apresentaram uma proposta onde procuram conciliar as ambições oníricas do Homem Urbano que procura viver no campo mas que possa ir às compras ao DolceVita. A Estratégia assenta numa ocupação do solo de baixa densidade, onde grande parte do seu uso está destinado ao conceito de Hortas Urbanas, criando assim um parque temático, com zonas de pomar, relvado, hortas, cultivo de flores. A proximidade do novo Hospital de Cascais assume-se através da colocação de blocos habitacionais em forma de U com logradouro virado para o interior da proposta, optimizando as vistas para o núcleo hortícola enquanto faz uma barreira de protecção e estabelece um paralelismo volumétrico urbano com os blocos de 4 pisos. A nova linha proposta do metro de superfície da região de Cascais é o eixo principal no qual assentam as infra-estruturas da proposta, introduzindo novos usos como o pedonal e o cicloviário.
Aparentemente a estratégia está bem consolidada e reflecte-se num desenho urbano capaz e bastante coerente e pragmático, embora sem grandes tentativas de inovação ou introdução de novos conceitos. No entanto, chamo atenção para como é que um plano destes pode sobreviver à pressão imobiliária dos terrenos afectos ao concelho em questão, onde a procura e o crescimento habitacional são assinaláveis, e até que ponto a introdução de hortas urbanas faz sentido num território que quando olhamos em redor é marcadamente rural, com baixa densidade, ou seja, estamos somente a dar mais do mesmo a estas pessoas. Se a proposta estivesse relacionada com algo mais do que a tentativa de tirar proveito do sentimento nostálgico que o português tem do uso e cultivo da terra, penso que seria uma proposta bem mais sustentável. È obvio que temos que procurar resolver os problemas um de cada vez, mas será esta a resposta mais assertiva às necessidades urbanas e de sistemas socioeconómicos do povoado da Aldeia do Cabreiro?
Em relação à equipe de futebol vencedora no local do Entroncamento (digo isto porque eram 10 elementos, entre os quais 4 arquitectos, 4 paisagistas e 2 modeladores de 3D) confesso que a apresentação prometeu muito no inicio… mas depois tudo se desmoronou num projecto com falta de integração e estrutura com o restante aglomerado do Entroncamento, onde o desenho urbano ficou carente pois o ênfase foi remetido para um conjunto de boas intenções programáticas e de financiamento da proposta.
O conceito geral do projecto estabeleceu-se em torno da ideia de fazer do entroncamento uma cidade criativa, a qual poderia ter uma série de relações com cidades de média escala ao seu redor, Tomar, Ourém, Fátima, Torres Vedras, Caldas da Rainha. Após isso descobriram que existiam fundos comunitários que poderiam ser aplicados num programa de reabilitação e fosse estruturado sobre estes princípios da inovação.
A proposta urbana em si defendeu princípios de acupunctura urbana. Mantiveram todas as linhas de caminho-de-ferro existentes e os bairros operários. Criaram uma espaço verde na área mais estreita da zona de intervenção, paralela à rua Eng. Ferreira Mesquita, de uso público pontuado por moradias isoladas destinadas a ateliers criativos, habitação para jovens e pequenos espaços comerciais. No fim dessa faixa surge uma nova urbanidade destinada aos serviços cujo programa na apresentação pareceu inexistente, assim como respectiva volumetria e ambiente urbano pretendido. Esta remata por fim com o Bairro de Camões de Cottinelli Telmo onde sem dúvida com alguma astúcia alteram o seu uso para integrarem um Hotel, previsto no programa de concurso. A originalidade da ideia residiu em manter as moradias existentes, assim como a Escola, para ai fazerem um hotel que se estendesse em cada uma das diferentes casas, como que cada uma dela fosse uma suite (esta é a minha interpretação da ideia tendo em conta as informações projectadas na conferência, visto que o autor não abordou como funcionaria o hotel, somente indicou a sua localização. A restante área do plano ficou entregue a zonas de bosque, conservando as vias de circulação que já estavam indicadas em sede de PDM pela Câmara do Entroncamento.
Em relação às passagens previstas em programa-base, entre as duas zonas da cidade dividas pela estrutura da REFER, é mantida a passagem subterrânea projectada no projecto para o novo Museu Nacional dos Caminhos-de-Ferro de Carrilho da Graça, e reformulada a sul a passagem aérea viária através da adição de mais elementos programáticos, como zonas comerciais, pedonal, ciclável, transformando-se numa espécie de mega-estrutura com 3 níveis, assemelhando-se a uma barragem.
No fim, a grande valia desta proposta reside no facto de a intervenção ser restringida ao mínimo assente numa estratégia global bastante forte e coerentemente apresentada. No entanto, isso por si não chega para ser um projecto vencedor, principalmente porque quando tentamos estabelecer um paralelo entre as intenções que tanto prometem e o plano urbano, ficamos com a sensação de que foi pouco aprofundado. Além do mais, e não menos importante, as premissas programáticas referiam 60.000m e 40.000m, os quais revelo a minha dificuldade em encontrar no meio dos prados e bosques propostos. Já para não falar da Arquitectura do plano, onde as poucas imagens incipientes mostram volumetrias banais com vivências rotineiras dos espaços, e tipologias pouco aprofundas e desenhadas.
Tendo em conta o que foi apresentado seria de esperar mais de um projecto vencedor.
Ao que a nós diz respeito e às ilações que devemos tirar, penso que as nossas ideias eram fortes mas careceram no final de algo muito importante, uma base que as demonstrasse. Ou seja devíamos ter perdido mais tempo a estrutura-las e em produção de peças para apresentação com uma linguagem clara e que não deixasse margem para duvidas quais eram as nossas referencias para o plano proposto. Ao invés o nosso plano está entregue um pouco a livres interpretações pois n existe esta base inicial desenvolvida, como esteve presente nos dois projectos vencedores. Sinto que desenvolvemos demais a proposta a nível arquitectónico, perdendo tempo com detalhes de regulamentação e outros mais que nas propostas vencedoras claramente denotavam a sua ausência. Devíamos nos ter ficado com as intenções… e eram boas intenções. Por isso aqui fica um estímulo para um futuro mais risonho.
Um pequeno reparo: cada vez mais observo o uso da palavra sustentabilidade para classificar projectos, como disso resultasse um selo de qualidade inerente. È certo que a sustentabilidade é urgente e necessária, mas quando usamos a expressão para justificar projectos onde se põem uns esquemas com ciclos de água e refrigeração teóricos, com uns poucos painés solares e ventoinhas eólicas no landscape, leva-me a perguntar depois onde estão as preocupações com os materiais construtivos, com os incrementos de maquinaria que por si só tem um ciclo de vida reduzido e cujo aproveitamento após fim de ciclo é praticamente impossível, com as lógicas de poupança de energia através do própria formulação das tipologias tirando partindo da exposição solar… quando por vezes bastaria usar métodos ancestrais de aproveitamento das águas das chuvas através da reserva de áreas de terreno para escoamento das águas naturais dos terrenos em redor, quando o uso de fachadas que permitam a ventilação das habitações, quando a própria mudança de hábitos de consumo e de habitar levariam a uma verdadeira mudança de pradigma. Mas espero que o Rodrigo quando vier nos possa contaminar com o conhecimento avantgarde que está a receber de forma podermos ter um conhecimento mais real desta matéria de estudo da arquitectura.
Sem comentários:
Enviar um comentário