Dubai Renaissance é um projecto da autoria de Rem Koolhaas e Fernando Donis do atelier OMA, para uma competição no Dubai, no ano passado, cuja intenção era a criação de um ícone (mais um ícone…diria), no centro da Business Bay desse país.
Apesar de Rem Koolhaas ter perdido a competição para a antiga colega e co-fundadora dos OMA, Zaha Hadid, com as suas Dancing Towers, encontra-se neste momento a negociar a construção deste projecto noutro local nos Emirados Árabes Unidos.
Concebido, ao invés do solicitado, como um “anti-icon”, num claro acto de provocação e de afirmação, o projecto apresenta-se como sendo um prisma maciço e delgado, sem qualquer tipo de artifício formal.
Pois bem, à partida a atitude conceptual por detrás deste projecto parece-me mais do que adequada, esta atitude de re-acção numa zona do globo onde o império petrolífero permite as maiores extravagâncias arquitectónicas poderia ser a oportunidade ideal para lançar um repto aos inúmeros arquitectos que espelham nos seus projectos o desmesurado tamanho do seu ego. Mas há algo de incoerente nesta estratégia, não podemos ser pregadores e pecadores ao mesmo tempo.
Já retomarei à minha linha de raciocínio, mas sem antes vos transcrever algumas linhas da memória descritiva que acompanhou o projecto, sem qualquer dúvida um texto teórico eloquente e estruturado, num nível qualitativo que os OMA nos têm habituado.
Apesar de Rem Koolhaas ter perdido a competição para a antiga colega e co-fundadora dos OMA, Zaha Hadid, com as suas Dancing Towers, encontra-se neste momento a negociar a construção deste projecto noutro local nos Emirados Árabes Unidos.
Concebido, ao invés do solicitado, como um “anti-icon”, num claro acto de provocação e de afirmação, o projecto apresenta-se como sendo um prisma maciço e delgado, sem qualquer tipo de artifício formal.
Pois bem, à partida a atitude conceptual por detrás deste projecto parece-me mais do que adequada, esta atitude de re-acção numa zona do globo onde o império petrolífero permite as maiores extravagâncias arquitectónicas poderia ser a oportunidade ideal para lançar um repto aos inúmeros arquitectos que espelham nos seus projectos o desmesurado tamanho do seu ego. Mas há algo de incoerente nesta estratégia, não podemos ser pregadores e pecadores ao mesmo tempo.
Já retomarei à minha linha de raciocínio, mas sem antes vos transcrever algumas linhas da memória descritiva que acompanhou o projecto, sem qualquer dúvida um texto teórico eloquente e estruturado, num nível qualitativo que os OMA nos têm habituado.
“The ambition of this project is to end the current phase of architectural idolatry – the age of the icon – where obsession with individual genius far exceeds commitment to the collective effort that is needed to construct the city…
Instead of an architecture of form and image, we have created a reintegration of architecture and engineering, where intelligence is not invested in effect, but in a structural and conceptual logic that offers a new kind of performance and functionality.
So far, the 21st century trend in city building leads to a mad and meaningless overdose of themes, extremes, egos and extravagance.
What is needed is a new beginning, a Renaissance… Dubai is confronted by its most important choice: Does it join so many others in this mad, futile race or does it become the first 21st century metropolis to offer a new credibility?
The design of the building wastes no energy on useless invention. It proposes a single monolithic volume constructed, like an elevator core, in one continuous operation – 200 meters wide and 300 meters tall. Instead of competing with the Burj Dubai merely in terms of height, it overshadows it in terms of presence and substance…
If the shape of the Renaissance offers a massive presence from one side, from another angle it reveals exceptional slenderness…
Both conditions will stand out among the surrounding towers, a radical experiment in alternating identities.”
Estou rendido a esta brilhante argumentação, mas depois custa-me ver a diferença entre a prática e a argumentação. Um senhor (desculpem mas vou individualizar os OMA na pessoa do sr. Koolhaas, peço desculpa ao Artur que gastou as pestanas nesse atelier) que se apresenta no Porto com um projecto que não passa de um exercício de amplificação de escala de um projecto falhado para uma habitação familiar, que edifica uma forma em pleno coração da Rotunda da Boavista sem respeitar a mínima relação com o local e as suas características próprias, não mais que um ícone forçado na cidade, numa cidade cujas intervenções até à data tinham pautado pelo respeito por esta identidade própria, única na sua homogeneidade, como um leve e fresco suspiro a beira rio, sem avulsos de uma tosse rouca e forçada, agora imposta. Acrescentar que recentemente esta peça arquitectónica, à qual teci umas ligeiras críticas, acabou de ganhar o Prémio Europeu de Arquitectura, entregue pela RIBA (eu não devo perceber nada de arquitectura).
Pois bem, só vejo uma explicação para a atitude de Koolhaas neste projecto no Dubai, após satisfeito o seu ego com a Casa da Musica deverá ter tido um momento de lucidez, e num acto de contrição vem apregoar como um bom samaritano o fim desta overdose de pornografia visual na arquitectura.
Na boa tradição católico cristã portuguesa, deveria aceitar que o senhor realmente acredita nas palavras acima transcritas, mas se tomarem atenção ao que escrevi no inicio deste post, vemos quantas mascaras o ser humano possui, como é capaz de vender a própria alma. Não bastando ter entrado numa competição com uma atitude de confrontação, numa clara demonstração de poder e de afirmação pessoal, não bastando ter perdido e podendo sentir-se satisfeito por ter, supostamente, passado uma mensagem com uma forte intenção pedagógica, o seu ego só ficou satisfeito quando conseguiu reformular o projecto de modo a materializá-lo noutro local. Os projectos de arquitectura passaram, e isto não são receios antigos, é a prática comum vigente, a ser objectos de design, que são produzidos de modo a satisfazer uma utilização eficiente, sem local ou utilizador específico, estamos perante o denominado design universal na arquitectura.
Mudaram-se os valores, mudam-se as vontades e a arquitectura passa a ser reflexo de uma moda.
O anti-icone de Rem Koolhaas
O icone de Zaha Hadid