Mais uma vez os pequenos países e subdesenvolvidos acabam por pagar a factura dos ‘grandes’ países que em nome da sua progressão económica consomem a sua fatia e a do pobre país. Politiquices à parte, cabe a nós enquanto indivíduos singulares, ter um olhar cada vez mais atento relativamente aos nossos comportamentos diários e aguardar – com uma postura atenta e interventiva - que a ‘politica’ e o ‘negócio empresarial’ façam a sua parte.
Tal como nos mais diversos sectores também a Arquitectura surge aliada, na sua maioria, a esta aceleração económica desenfreada. Constrói-se cada vez mais para uma sociedade que se estabelece mais do que uma vez numa só geração e que tenta viver à velocidade de um ‘click’. Neste processo de aquisição e libertação de um imóvel o maravilhoso termo de ‘amigo do ambiente’ faz apenas sentido no seu processo de construção e posterior tempo útil de vida mas não quando o construído passa a resíduo. Por outro lado no que à reutilização energética e optimização das energias naturais dizem respeito ainda muito está por fazer. Corrijo, ainda muito está por implementar!
Se pesquisarmos em qualquer motor de busca na web pela palavra arquitectura bioclimática rapidamente contactamos com inúmeros conceitos, estratégias, ilustrações esquemáticas e muitos exemplos de projectos construídos. Não querendo menosprezar tais projectos, que em grande parte são obras de excelência e que denotam uma compreensão ampla e cuidadosa por parte dos arquitectos, devo manifestar o meu desagrado pelo facto de tais abordagens continuarem limitadas a um sector muito restrito. Para frasear o arquitecto Siza Vieira " é como ligar a limitação económica à ausência de qualidade: por conseguinte, com poucos recursos, o resultado deve ser péssimo" quando este se referia à tentativa de fugir a um certo tradicionalismo e carácter popular que estava muito enraizada na forma de abordar a habitação social na década de 70. (excerto de "Imaginar a Evidência").
Penso que devido ao alto custo de implementação de certas práticas e tecnologias não podemos exigir que estas sejam implementadas mas devemos exigir que sejam implementadas parcialmente. Não podemos ter um ‘edifício verde’ a 100% mas podemos começar pelos 5%. Não resolvemos, mas a pouco e pouco minimizamos! Os sistemas de gestão energética passiva tão interessantes e amplamente estudados e divulgados deveriam ser cada vez mais uma obrigação do arquitecto e não um dever, através de um olhar mais amplo. Não interessa muito reduzir as transmissões energéticas se depois não aplicarmos estratégias de gestão da energia quer produzida quer dissipada dentro de um edifício. Era a este ponto do meu raciocínio que queria chegar: Reduzir através de um gestão rigorosa da energia disponível. Quando então este patamar estiver suficientemente estudado e testado podemos então, quem sabe mais tarde e com um custo de aquisição e implementação mais baixo, passar para a implementação de sistemas de captação e conversão de energia de impacto ambiental nulo. Corrijo mais uma vez: impacto reduzido.
Este tem sido o caminho apontado nas mais diversas áreas com vista a uma redução da excessiva dependência energética global e que faz todo o sentido ser aplicado também no campo da arquitectura. Há uma certa obsessão pelos mecanismos de produção de energia 'limpos' descurando muitas vezes os de reutilização da energia que já dispomos. E esta está ao nosso alcance não necessitando de um grande investimento mas sim de alguma sensibilidade na sua utilização.
Espero que num futuro breve possamos contar com a implementação destes aspectos nas construções ditas sociais, isto é, que qualquer individuo singular possa contactar com elas diariamente e se deixe de olhar para elas como algo inovador e consequentemente de acesso restrito mas sim como algo normal e de uso quotidiano e geral.