Esta obra sem dúvida reflecte aquilo que de mais importante há na Arquitectura, a dedicação de um projectista em poder corresponder às necessidades, e desejos dos moradores e utilizadores dos seus projectos.
Ninguém melhor que o próprio autor pode descrever a sua obra, e apesar de a obra não ser perfeita, parafraseando o autor, para mim está muito próximo de um compromisso entre o espírito comunitário que se pretende de um bairro, e a qualidade arquitectónica do conjunto. 30 anos depois continua e será um exemplo a ter em conta.
.
“A conclusão da Bouça foi para mim uma quase surpresa. Nunca perdi completamente a esperança de que isso acontecesse, sobretudo pela contínua pressão dos moradores das nunca acabadas casas da primeira fase.
Depois de 30 anos de interrupção, o empenho da Federação das Cooperativas foi determinante para a decisão da CMP e do INH para finalizar a obra.
Para além de construir a segunda fase do projecto, pretendia-se recuperar as casas existentes (cerca de 1/3 do total). Não era fácil convencer os residentes em prescindir de algumas improvisadas intervenções entretanto realizadas. Sentia-se a dificuldade em aceitar a interrupção do “magnífico isolamento” em que viviam, no centro da cidade, embora em ambiente degradado; e também o receio de um eventual aumento de renda.
Foi necessário um pacífico diálogo com os moradores, o qual tornou clara a obrigação de manter quase integralmente o projecto inicial, salvo poucas excepções; assim o determinava o propósito de preservar as habitações já construídas e habitadas, parte de um projecto unitário. Esse diálogo incluiu cedências e inovações, ainda que pouco relevantes.
Eu próprio me debatia com dúvidas e dificuldades. A revisão do projecto obrigava a considerar a evolução profunda da população residente, em relação ao contexto anterior à revolução de 1974 (era então impensável a necessidade de uma garagem, ou a preocupação em demarcar espaços público e privado, impossível prever o grau de exigência dos regulamentos actuais).
A Bouça era um projecto radicalmente económico, nem outra coisa poderia e deveria ser em 1974.A discussão do projecto revelou, anos volvidos, o desejo (e a possibilidade, ainda que reduzida) de melhoramentos pontuais de qualidade e de conforto. Era necessário atender às exigências manifestadas, algumas por preconceitos que acompanham a melhoria objectiva de qualidade de vida. Foi por isso e de novo, um projecto participado, no que se refere à relação com as famílias residentes.
Concluída a obra, a reacção do mercado mostrou que o tipo de habitação não só correspondia por inteiro às tendências actuais na procura da habitação económica – para bem e para mal – como, por outro lado, eram atractivas para outros sectores da população: estudantes, profissionais jovens, famílias recém-formadas – protagonistas da mobilidade característica da cidade contemporânea.
Na revisão feita perde-se de algum modo a integridade do primeiro desenho. Mas existe agora uma estação metropolitana à porta, ligando com toda a cidade; um fluxo de gente que atravessa o terreno; equipamentos abertos às ruas envolventes; um jardim tratado, automóveis como em qualquer conjunto habitacional.
Não é obra perfeita. Mas seria isso o principal?”
Álvaro Siza
In, J.A. 232
Depois de 30 anos de interrupção, o empenho da Federação das Cooperativas foi determinante para a decisão da CMP e do INH para finalizar a obra.
Para além de construir a segunda fase do projecto, pretendia-se recuperar as casas existentes (cerca de 1/3 do total). Não era fácil convencer os residentes em prescindir de algumas improvisadas intervenções entretanto realizadas. Sentia-se a dificuldade em aceitar a interrupção do “magnífico isolamento” em que viviam, no centro da cidade, embora em ambiente degradado; e também o receio de um eventual aumento de renda.
Foi necessário um pacífico diálogo com os moradores, o qual tornou clara a obrigação de manter quase integralmente o projecto inicial, salvo poucas excepções; assim o determinava o propósito de preservar as habitações já construídas e habitadas, parte de um projecto unitário. Esse diálogo incluiu cedências e inovações, ainda que pouco relevantes.
Eu próprio me debatia com dúvidas e dificuldades. A revisão do projecto obrigava a considerar a evolução profunda da população residente, em relação ao contexto anterior à revolução de 1974 (era então impensável a necessidade de uma garagem, ou a preocupação em demarcar espaços público e privado, impossível prever o grau de exigência dos regulamentos actuais).
A Bouça era um projecto radicalmente económico, nem outra coisa poderia e deveria ser em 1974.A discussão do projecto revelou, anos volvidos, o desejo (e a possibilidade, ainda que reduzida) de melhoramentos pontuais de qualidade e de conforto. Era necessário atender às exigências manifestadas, algumas por preconceitos que acompanham a melhoria objectiva de qualidade de vida. Foi por isso e de novo, um projecto participado, no que se refere à relação com as famílias residentes.
Concluída a obra, a reacção do mercado mostrou que o tipo de habitação não só correspondia por inteiro às tendências actuais na procura da habitação económica – para bem e para mal – como, por outro lado, eram atractivas para outros sectores da população: estudantes, profissionais jovens, famílias recém-formadas – protagonistas da mobilidade característica da cidade contemporânea.
Na revisão feita perde-se de algum modo a integridade do primeiro desenho. Mas existe agora uma estação metropolitana à porta, ligando com toda a cidade; um fluxo de gente que atravessa o terreno; equipamentos abertos às ruas envolventes; um jardim tratado, automóveis como em qualquer conjunto habitacional.
Não é obra perfeita. Mas seria isso o principal?”
Álvaro Siza
In, J.A. 232










fotografias by CANSON
2 comentários:
Pode ser tudo isso a que Alvaro Siza refere, mas que parece mais uma prisão cheia de celas com fortes gradeamentos, de janelas e portas estreitas,lá isso parece.
voce é um burro.
Enviar um comentário