20 junho, 2007

Embaixada da Holanda na Etiópia

A colocação deste post é uma pequena provocação à arquitectura holandesa, às suas raízes, e ao modo como preconceituosamente rejeitam certas soluções dentro das suas fronteiras.
O projecto concluído em 2000 para a Embaixada da Holanda na Etiópia, da autoria do arquitecto Dick van Gameren (ex-membro fundador dos Architectengroep) demonstra de um modo superior a utilização do betão cru e das suas inúmeras possibilidades adjacentes a esse material, algo que na prática quotidiana neste país não acontece.
Para mim, é com alguma estranheza, que observo em meu redor a necessidade da arquitectura holandesa se socorrer em demasia do deslumbre do tratamento de fachadas, do uso diversificado e intensivo de diferentes materiais, numa clara alusão ao less is a bore. Além do mais, o uso do betão como material de revestimento é quase inexistente, sendo a sua função unicamente estrutural. E esta situação, causa-me alguma confusão. Porquê não darmos verdadeiro destaque ao edifício na sua verdade construtiva, na sua integridade e honestidade, em vez de recorrermos a operações de cosmética, onde as fachadas são layers de projecção visual para o exterior? E cada vez mais, não necessitamos de fazer apologia da arquitectura entediante, uma vez k podemos aplicar texturas, padrões e colorações ao betão, é dos materiais com mais potencial a nível da sua flexibilidade de uso.
Assim, é com agrado, que verifico um atelier holandês a fazer um uso sábio deste material, embora somente num pais do terceiro mundo, e a sua escolha se tenha devido acima de tudo às limitações técnicas que se encontraram.

O projecto em si possui outras qualidades de destaque, além do modo como o betão foi usado. O projecto consiste numa diversidade programática, que se distribui por diferentes edifícios ao longo da propriedade, caracterizada pelo seu desnível acentudado e pela predominância de eucaliptos. O edifício de maior destaque consiste na embaixada e na residência do embaixador. O cuidado em integrar o edifício na paisagem foi um dos temas centrais do projecto, dai ter-se optado por uma solução que evitasse ter um impacto impositivo. O volume horizontal, adoçasse à morfologia, sendo intersectado pelo terreno, estabelecendo a diferenciação entre as duas funções acima descritas. O edifício tem leitura de um todo, no entanto está dividido em duas partes que não se confrontam, permitindo estabelecer uma imagem de contacto permanente com a natureza, factor relevante do local.
O gesto é simples mas essencial para o equilíbrio da forma no sítio em que é implementada.
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1 comentário:

  1. Partindo deste pressuposto: …”a necessidade da arquitectura holandesa se socorrer em demasia do deslumbre do tratamento de fachadas…”, prefiro antes alçado.
    Vou fazer uma metáfora. Imagino 1 linda mulher, como veio ao mundo, ela é toda feita de betão. Depois, vêm os ditos arquitectos e pintam a sua face desalmadamente, com camadas e camadas de maquilhagem, logo em seguida ela é vestida com inúmeras cores, texturas, artifícios que tentam atingir o simulacro (seguindo as tendências da moda).
    Deixou de ser a linda mulher, passou a ser, mais 1 mulher, um clone. A identidade perdeu-se? Penso que sim… Estamos perante a presença de algo coberto de coisas supérfluas….
    O arquitecto tem e deve saber quando parar.
    Por vezes o ideal seria, varrer com a “vassoura de Hércules” certas ruas por onde passamos….
    O betão é a génese. Os materiais valem por eles mesmos, tal como a imagem poética da mulher, vale pelo que é.
    1 bom projecto…, um bom algo…, não necessita de artefactos.

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